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A Casa do Patrimônio Serra da Capivara representa a incubadora de projetos interdisciplinares ligados a educação e preservação do patrimônio cultural, material e imaterial na Região Sudeste do Piauí, e esta ligada ao IPHAN em parceira com as universidades locais e as comunidades que vivem e produzem cultura no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Patrimônio Cultural do Município Petrolina/PE


Mercado Livre – Petrolina/ PE, 1980 − © Celestino Gomes.
− Óleo sobre Estopa (0.80 x 1.25 cm).


O Corvo das Ideias Primordiais


Morreu há alguns anos atrás, mas precisamente no dia 21 de Abril, o mais notável Petrolinense que tive a honra de conhecer e ouvi-lo falar na sua mansidão, na sua atormentada placidez, nos seus retoques de homem simples e dotado da sabedoria celeste dos astros iluminados que brilham nas províncias como lírios de fogo, pois sua alma encantadora já era maior do que os causos de sua notável rebeldia, contados as várias bocas pelos que o julgavam como um louco ou um simples personagem folclórico. Por causa dele perdi um grande amigo, certo dia ao me referir a Celestino Gomes com a alcunha de ser ele o nosso Hemingwey do Sertão.
Há dias, via-me triste e perturbado com o curso de sua enfermidade. Sua dor silenciosa e de ressonância íntima me incomodava profundamente, pois na sua presença se podia ver que era um homem forte e valente, que se resguardava e se fortalecia dia-a-dia com o brilho do sol de sua terra e a presença do rio em sua vida, frente aos vários desassossegos da existência. Hoje entendo que o excêntrico e amável Celestino se eternizou ao dar vida a alma sertaneja na genialidade do seu traço, que se alinhava à inquietação latente de sua triste existência de homem peregrino e solitário.
No dia de sua partida, percebi o quanto a cidade ficou mais feia, pobre e esquecida. E só uma cidade sabe o que é perder a força de um grande olhar, na figura do seu maior artista. Petrolina perdeu não só o olhar de um grande artista, que não se cansou de retratá-la, mas a doçura de um ser que transcendeu as suas esquinas, as suas praças, as suas ruas, o seu encanto. Seu desaparecimento nos deixou também muito pobres. Era a enigmática figura de um homem que transparecia sua tristeza nas suas ações e, nos deixava partindo para outra jornada de espiritualidade.
Hoje sei que a literatura Petrolinense perdeu uma de suas vozes mais libertárias. Sua independência diante das convenções sociais incomodava e causava calafrio em muitos figurões desta provinciana cidade de tropeiros, beradeiros e aventureiros, porque era capaz de alçar vôos muito rápidos e altos, diante de uma simples tomada de decisão em favor das causas dos mais desfavorecidos. Mas Celestino Gomes partiu para o desconhecido com o reconhecimento público de uma produção artística que só a posteridade saberá coroar com a grandeza plástica das imagens do sertão que ele deixou, já que com indiferença foi tantas vezes julgado e impiedosamente atacado.
Ao refletir sobre a morte do poeta dos pincéis celestiais, me veio a pergunta que tangencia a arte como espelho social de uma época, e fui calado com a sublime reflexão de que a maior arma de um coração bélico como o dele é possuir o sonho de grandeza de um sonhador que sonha com o enriquecimento humano dos homens que o circundam. Agora posso chamá-lo como dizia Miguel de Cervantes do seu cavaleiro da triste figura – Dom Quixote. E foi esta figura universal que recobrou da minha ingênua pena a candura de uma reflexão que fervilhava a minha alma naquela manhã do dia 22 de Abril ao ver seu corpo sendo levado ao cemitério, diante de uma cidade pálida, perdidamente triste e pobre.
Presumo ser apropriado falar do velho Celestino, quando ele se predispôs a se identificar retratando o sertão como sua pátria maior. Era o sertanejo que falava nele, que se retratava diante do esquecimento de sua gente, que a ninguém deixaria indiferente. Celestino não estava de forma alguma alheio à importância daqueles com os quais se defrontava. No entanto, julgou-os a todos sem que jamais alguém pudesse perceber qual seria a sua real intenção. Mesmo assim, sua obra falará por si, ao deixar registrado como mapeamento de um tempo, o gratuito desfilar de seus personagens nas imagens de sua querida cidade. Não se tratava propriamente de caricaturas, mas de um gênero genial e peculiar que a poucos é dado em doses de sabedoria.
Sua rebelde figura, mais tarde, serviria como reminiscências de um caráter pessoal, independente e maduro. Porém o que conta, o que pesa mesmo é o fabuloso registro de sua época, de sua história e de sua aldeia, que o mesmo parece ter arquivado e que agora voltará a público com a redobrada força de seus mistérios.
Ao se deixar retratar em dois livros, sua imponente literatura cresce e se enaltece com o tempo na memória histórica do seu povo, pois passados alguns anos da publicação dos mesmos e diante do seu imaginário pictórico, podemos imaginar o quanto – o velho pintor do rio – já se conhecia e se auto-retratava com perfeição. Da mesma forma, e com o seu característico vigor, Celestino perambulava pelas ruas e se defrontava com a hostilidade dos olhares para com ele, mas conservava sempre aquele mesmo ar entre espantado e severo, de quem adivinhava o que iriam fazer com sua memória.
Seu sentido de expressividade obrigava os altíssimos, orgulhosos e provincianos a se curvarem diante dele, não por reverência, mas apenas para ouvi-lo melhor, em respeito a sua sublime compreensão de vida e abandono, o que dava afinal o mesmo resultado, devido à sabedoria que brotava dos seus vivos olhos azuis.
Neste pequeno memorial de recordação, Celestino Gomes estará sempre revestido de luz e simplicidade. Suas lembranças, mesmo que diminuída com o tempo, sempre me resguardará a sua atenção quase sardônica. Mas estou falando apenas dessa estranha personagem, que apresento como o homem histórico na sua última investigação histórica, no empenho de atingir o senso obsesencial da sua substância, na matéria palpável de sua arte como um misto lamentável de não ter tido a honra de conhecê-lo a fundo, na passível Petrolinidade desse nosso herói, que sempre merecerá ser lembrado como o maior e o mais notável cidadão Petrolinense.
Sua espécie é rara, pois sem escrever um verso se tornou realmente um grande poeta, pois retinha “uma candura que insiste em dizer-nos que és feito do fogo, do rio e de sol”. Seus tons de cinza, vermelho china, verde desbotado e azul cerúleo, nos lembram o extraordinário pintor holandês em seu inquieto canibalismo, empunhando sua expressão ameaçadora. E repito: sempre Celeste, quando ignorava o sentido simbólico de suas ações e principalmente diante de sua expressiva nostalgia de menino afoito e matreiro. Nisto sua figura se espelha a de um pequeno e sábio Corvo – sabendo que essa ave é o símbolo das idéias primordiais – na sua proposital genialidade diante da solidão que o revestia de celestes “arco-íris tingidos de tonalidades que nos acalentam e libertam”, mas já vivendo num plano superior, como todas as aves solitárias.
Na noite do falecimento total de sua existência, o céu se umedeceu e transbordou em lágrimas. Há muito ninguém o via passeando no passadiço citadino; a beira do velho rio – sua morada jeitosa, para onde queria ser levado para um último adeus. Era um pedido longínquo. A sua sina de marinheiro, boêmio e poeta, havia deixado-o numa ressaca interminável com os fatos do cotidiano, preferindo o isolamento sucinto nas plagas da ilha do silêncio; na torre do seu castelo de sonhos, ilusões, devaneios e lutas infindáveis para escapar da solidão.
O continente só ficou sabendo de sua triste partida porque os ventos do norte trouxeram mensagens da ilha, onde não mais os corcéis poderiam habitar por falta de proteção. Era a partida de um mito, que por toda a vida logrou pelas águas da existência na labuta contra o isolamento, chegando mesmo a ver caravelas onde só havia o desolado vai e vem das ondas que o abrigavam na sua lida de almirante. Seu último pedido foi que o enterrassem com sua magnífica espada numa encosta da ilha; perto do rio – longe de todos – Era um grande poeta!
O próprio dizia que no continente só possuía dois amigos: um Deputado da República para as suas confissões infernais ao relembrarem a infância de outras épocas, e um excêntrico poeta, para os bordejos matinais na boêmia gostosa do cais, na companhia solitária dos seus silenciosos encontros com o fim da tarde. Na verdade, nunca houve silêncio nestes encontros, pois ambos pensavam a vida e, entre becos e esquinas, seus pensamentos acabavam estacionados na Rua Boa Esperança num velho cabaré conhecido como Porto Bello. Era assim a sua vida no continente.
Sua existência fora uma grande e tumultuosa lenda, gerada a partir de aflições monumentais e inquietações latentes. Enterrou vidas e viveu o tempo suficiente para sofrer sete solidões e se maldizer do que viu e viveu nestes longos anos de silêncio. Era como se uma ordem secular partisse e deixasse o sentimento de ameaça tomar conta da vida dos seus contemporâneos. Muitos diziam que o mesmo não fazia parte deste universo, sendo uma transição que muitos queriam que partisse logo, para fazer-se esquecer do que um dia fora dito de sua boca – profecias malditas que afetaram os brios católicos da província mestiça com ares de nobreza, mas com traquejos de uma sociedade sem tradição nas ideias.
Poucos foram os que puderam contemplá-lo nestes últimos anos em que sua intransigente irreverência celebrava conflitos e aparições ilusórias, mas que alimentavam sua efêmera imaginação para o devaneio sombrio das enchentes do rio. Como se costumava dizer - Era um mito. O lema de sua existência sempre fora a totalidade da vida em sua total parcialidade; era um rebelde inquieto que sonhava com um mundo liberto de tiranias. Neste instante se saúda sua memória, arrastando pesares cerimoniosos sob o olhar crítico de uma espécie de pensador anarquista que olhava a todos como se tivesse pagado para ver um espetáculo.
Ao morrer deixou um inventário em dois livros, que desejava um dia ser lido como o breviário de sua lucidez para afirmar sua condição de filósofo de um caos íntimo numa Era Planetária, onde o ser não tem espaço diante do nada niilista da especulação digital e da imensurável frieza nas relações humanas. Falarão no futuro que as almas dos homens perdidos sobre um abismo e em contato com a imensidade, ficam abandonadas a todos os excessos do heroísmo, da loucura ou do horror. Evidentemente, que sua conduta jamais será submetida à prova de uma horrenda força diabólica, visto que a realeza dos seus ideais será nitidamente vista como algo que transcendeu o isolamento mais absoluto e fora capaz de esperançar, viver e lutar pelas causas mais nobres que padecia a humanidade.
Sua elegância tornava o funeral um tanto quanto sinistro; sua companheira de sempre – a solidão – estava lá, ao lado de um cão em silêncio, contemplando uma nova perspectiva sobre a alma do féretro – montavam guarda como negros corvos. Havia uma confissão latente de que não gostaria de morrer com terrores suplementares, mas tranquilamente, numa espécie de sonho sereno.
Parafraseando o escritor inglês Josaph Conrad, certa aptidão para a morte não é coisa tão rara, mas o que é raro é encontrar homens cujo coração, revestido de uma impenetrável armadura, esteja pronto para conduzir até o fim uma batalha perdida. Só os que lutam contra forças brutais conhecem bem esse desejo; homens que entram na História pela porta da frente, enfrentando as cegas potências da natureza ou a brutalidade estúpida das multidões... 




Gênesis Naum de Farias
Sertão Profundo, Novembro de 2014.

Imprensa Foucaultiana®






segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Núcleo de Estudos Foucaultiano


 
Núcleo de Estudos Foucaultiano da

UESPI comemora 03 anos

 
Aconteceu entre os dias 03 e 10 de Novembro o XI Encontro de Professores Pesquisadores sobre Educação na Contemporaneidade. O Evento pretendeu sintetizar e sistematizar ações de Pesquisa e Extensão desenvolvidas pelas Universidades do Município São Raimundo Nonato/PI. Por Gênesis Naum de Farias.
 

Para celebrar os três anos da criação e aprovação do Núcleo de Estudos Foucaultiano da Universidade Estadual do Piauí, aconteceu entre os dias 03 e 10 de Novembro o “XI Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade” que pretendeu promover o debate entre pesquisa e prática de educação no semiárido brasileiro, através de conferências, exposições de fotografias e oficinas temáticas. Na ocasião também foi realizado o debate “Convivências – Pesquisa e Diversidade no Semiárido Piauiense” – Eixo Central do Evento que contou com apresentações de trabalhos científicos de grupos de alunos da Universidade Estadual do Piauí - UESPI e trabalhos de pesquisa em Educação feita por pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Para o Coordenador do Núcleo de Estudos Foucaultiano, o Professor Gênesis Naum de Farias, a data não poderia passar em branco pela Universidade, pois marca também os trinta anos de ausência do filósofo francês Michel Foucault, ao tempo em que celebra o fato de que nestes três anos, diversos pesquisadores passaram pela Universidade dando suas contribuições, pesquisadores estes que se destacam pelo País produzindo ciência e formando gerações que testemunham a evolução dos debates na Universidade Estadual do Piauí. “Nós temos feito um esforço muito grande para manter e garantir que o debate acadêmico ocorra dentro da ritualidade que lhe é cabível e sentimos que a comunidade acadêmica tem vivenciado em suas experiências sensórias esse resultado quando percebe que a Universidade esta viva com os trabalhos de extensão que incluem também programas como o PARFOR e a Universidade Aberta do Brasil, prova disso são os diversos projetos desenvolvidos no empenho de integrar o Pólo acadêmico do Município São Raimundo Nonato, que possui uma Universidade Federal (UNIVASF), uma Estadual (UESPI) e um Instituto Federal de Ensino (IFPI). Neste contexto, fazemos Educação para além do mercado de trabalho e temos diversos ex-alunos já matriculados em cursos de Pós-graduação e atuando no campo educacional”, explica o Professor Gênesis Naum.

Ainda segundo o Professor Naum, o evento foi pensado para promover a discussão sobre as práticas educativas para a Convivência com o Semiárido, percebida atualmente como um caminho para a contextualização, tendo nos currículos contextualizados um expoente de mudança para o cenário onde se insere o debate da “desordem” no contexto da cultura escolar. A temática central do evento teve como proposta reunir pesquisadores da micro-região integrada pelos trabalhos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pelos acadêmicos das Universidades da região, bem como de outros Estados Brasileiros para debater com estudantes de Graduação e Pós-graduação, a própria tessitura das produções da pesquisa local.

Ações de Pesquisa e Extensão 

O Núcleo de Estudos Foucaultiano da Universidade Estadual do Piauí – UESPI apresentou no ensejo mais de trinta trabalhos realizados pelos alunos da graduação e da Pós-graduação. Os diferentes trabalhos versavam sobre problemáticas que vão além da sala de aula e buscam refletir a Educação como contexto e como subjetivação.

De acordo com o Professor Gênesis Naum, coordenador do referido Núcleo, já é o terceiro ano de intensas atividades em que ações afirmativas de pesquisa e debate levam a comunidade citadina a perceber a grandeza das ações desenvolvidas pelas três instituições de Ensino Superior na Micro-região Sanraimundense, o que amplia horizontes consideráveis para fortalecer e consolidar a vocação para a pesquisa no cenário do Sudeste do Piauí. O Núcleo já havia organizado outros grandes eventos ao longo desses três anos de existência, ao trazer e levar alunos para congressos nacionais e aulas de campo em outras paragens do Brasil com o objetivo de fazer com que os acadêmicos vivenciassem outras experiências de aprendizagem.

Sobre o evento de Novembro, o Professor Naum destaca: “É um encontro de grande importância, pois a Educação Contextualizada vem sendo requerida para ampliar os currículos e fazer renascer a cultura escolar que por estes tempos anda na contramão das propostas de inclusão e confluência de saberes, tendo em vista que o modelo atual de ação e atuação dos saberes escolares tem perdido força para os chamados ‘ambientes virtuais de aprendizagem’. Neste caso é evidente se pensar em retomar esse diálogo com a cultura escolar para ressignificarmos o papel da escola na contemporaneidade. Chego a pensar que a ‘desordem’ tem implodido a noção de ‘ordem’ idealizado amplamente para o cenário das salas de aula, fazendo professores e pesquisadores não se sentirem contemplados pela profícua ação dos discursos oficializantes. Nestes três anos de atuação, temos percebido outras viabilidades para o mesmo contexto, isto coloca a UESPI de São Raimundo Nonato num cenário de vanguarda na Região, tendo em vista as parcerias que temos feito com a UNIVASF e com o IFPI para elaborarmos políticas de ação afirmativas que alcancem o fosso criado/ deixado pelos desmandos da indústria cultural. Portanto, essas conquistas são o reflexo do trabalho que estamos desenvolvendo na Universidade Estadual do Piauí”. Relata.

O XI Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade também promoveu intervenções culturais como recitais e lançamentos de livros, exposições fotográficas, e duas rodadas de debates sobre a importância da pesquisa desenvolvida por alunos-pesquisadores e professores-pesquisadores que discutiram a formação continuada e o uso da profissão docente como um exercício de cidadania voltada para atender as novas diretrizes curriculares e mapear e difundir a produção local já há muito desconhecida dos grandes circuitos acadêmicos do Estado.

O Núcleo de Estudos Foucaultiano é um Projeto de Extensão Universitária e tem como objetivo mostrar essas confluências, mapeando a diversidade artístico-cultural da Região, opondo-se à invisibilidade promovida pelos meios de comunicação de massa que insistem em marginalizar a realidade uniforme de um contexto educacional híbrido que necessita ter formatos outros que se atenham às questões de Convivência com o Semiárido Brasileiro.

O Professor Naum afirma ainda: “As ações afirmativas de estudo da obra de Foucault e seus desdobramentos práticos, surgiram do anseio em se repensar o antagonismo existente entre o ser que domina e o ser dominado. Isto na Educação Contextualizada tem um efeito do tamanho do mundo, porque serve para fortalecer o pensamento coletivo diante dos desmandos dos que acham que controlam as outras gentes e suas culturas e gestos, ao tempo em que envolve especialistas outros e de outras áreas e regiões diversas objetivando contribuir para que de fato tenhamos uma Universidade que seja vista pela sociedade como algo pertencente a elas. O desafio maior é fazer a sociedade civil perceber que a Universidade é dos filhos dela e para os filhos dela e não de particulares que a utilizam para manter o status quo da dominância das mentalidades e do capital cultural, por exemplo. É um desafio pensar em Educação nestes tempos de ‘Virada Cultural’, mas aos poucos e com parceiros que acreditam numa Educação de qualidade, vamos tecendo outros fios e outras redes de saberes para projetarmos a Universidade no Semiárido que queremos e na qual sonhamos cotidianamente”. Sintetiza. 

XI Encontro de Professores Pesquisadores sobre Educação na Contemporaneidade 

“Convivências – Pesquisa e Diversidade no Semiárido Piauiense”. Este foi o eixo central do XI Encontro de Professores Pesquisadores Sobre Educação na Contemporaneidade que aconteceu na Universidade Estadual do Piauí – UESPI, entre os dias 03 a 10 de Novembro, no Campus Ariston Dias Lima no Município São Raimundo Nonato. As conferências foram realizadas na Sala de Conferência do referido Campus. O evento se propôs na discussão acerca da importância da pesquisa no semiárido brasileiro e contemplou a projeção de outros estudos de impacto global nos estudos na área de Educação, História, Biologia, Geografia, Ciências da Natureza e Preservação Patrimonial.

A programação incluiu conferências, mesas-redondas, seções de comunicação livre, exposições de arte, fotografias, lançamentos de livros e apresentações culturais. “esperamos que esses eventos venham contribuir para fortalecer e fomentar outras referências para a formação dos professores ao tempo em que sirvam para fortalecer a linha de pesquisa Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, que esta sendo desenvolvida como anseio de outras proposições para o que se pretende como debate e contexto, bem como em diversas outras perspectivas onde a alma professoral estiver atuando, servindo para nortear os educadores para retomarem os debates sobre a própria formação e os descaminhos empreendidos pela ‘morte’ da cultura escolar no contexto da escola que se coloca na contemporaneidade, em desordem, frente aos Desafios do Discurso Educacional e seus Deslocamentos diante da importância da Memória do Trabalho Escolar no Semiárido”, explica o Professor Gênesis Naum de Farias.
 

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O Patrimônio em Cena na Busca pelo Tempo Perdido
 
 

A Cidade dos Aromas – São Felix/BA. − © http://www.ufrb.edu.br/ebecult/wp-content/gallery/cidade-de-cachoeira/rio-3.jpg. - Retrato (0.20 x 0.25cm).

 
 
A importância de um evento acadêmico que tenha como foco um trabalho de Extensão torna-se cada vez mais propício para divulgar e relatar as aprendizagens vivenciadas, tanto na ambiência universitária ou no ambiente prático de uma aula de campo, permitindo aos alunos e professores, aproximarem-se da realidade previamente estabelecida no perímetro de uma região a ser estudada e, em razão dos debates teóricos desenvolvidos em sala de aula ao longo de um Semestre, podem chegar o mais próximo da identidade de um pesquisador. O Património em Cena esta em sua quarta edição e caminha para se efetivar como um encontro de pesquisadores para trocas de múltiplas experiências. Vincula-se aos estudos do Patrimônio, da Memória e se incorpora a uma Sociologia do Imaginário, pois quer sempre estreitar os laços que separam as questões de Preservação Patrimonial, ligando-a as diferentes dimensões da cultura material, permeada pelas dimensões culturais, políticas, pedagógicas e transversais.
Nesta empreitada, a cidade heroica de Cachoeira na Bahia, palco de grandes conquistas no processo de Independência, foi tomada pelos alunos da Disciplina Preservação Patrimonial III do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial de São Raimundo Nonato, no Sudeste do Piauí. Na ocasião, foi possível identificar e discutir aspectos da produção e organização do espaço geográfico urbano, em especial os elementos de ordem ambiental, patrimonial, econômicos, sociais e culturais, tendo como referencial o Patrimônio Urbano. Para dar conta dessa empreitada, elegeram-se como pontos de visitação as áreas de ruinas/casarios nos arruados do burgo de Cachoeira e São Felix, cidades separadas pelo Rio Paraguaçu. Nestas localidades verificou-se que ainda ocorrem algumas práticas de preservação do patrimônio arquitetônico colonial, visto que são cidades tombadas e, apresentam diversas experiências de ressignificação do patrimônio como vetor de desenvolvimento cultural e patrimonial, passando pelo turismo sustentável e pelos processos de revitalização da cultura e dos costumes da comunidade através da memória e do pertencimento. Isto posto, buscou-se perceber e explorar as intensas interfaces existentes entre o patrimônio histórico e cultural, a religiosidade, seus lugares de memória, suas histórias, suas tradições e os deferentes modos deste imaginário ao se relacionar com a espacialidade urbana. Sob esta perspectiva, buscou-se pensar/repensar a noção de patrimônio material e imaterial através de um sítio urbano pleiteado por diversas abordagens metodológicas junto à pesquisa participante, através de entrevistas, relatos fotográficos, análise de documentos e visitações públicas a diversos logradouros para compreender as dinâmicas locais.
O Município de Cachoeira no Recôncavo congrega experiências sociais significativas de produção turística com forte preponderância no turismo religioso e de memória e pertencimento cultural. Em especial, na perspectiva das próprias elaborações arquitetônicas que se integram num mesmo espaço urbano, tendo como norte o ponto de vista do imaginário do cotidiano sociocultural, pelos deslocamentos cabíveis a um processo de tentativa constante de revitalização patrimonial organizado pela sociedade civil através do Programa Monumenta que viabilizou a reforma e manutenção dos Casarios e Igrejas do Sítio em estudo, como forma de manter presente a importância do patrimônio arquitetônico urbano que está no circuito da especulação imobiliária, fato que vem sendo abordado através do eixo Patrimônio Urbano das Cidades através da Urbanização e das Políticas de Mobilidade Urbana, pensado para cidades de médio e pequeno porte, que são responsáveis por gerir uma microrregião.
A proposito, os acadêmicos foram orientados a perceberem os impactos oriundos da mercantilização do espaço urbano, pela especulação imobiliária, ao tempo em que se organizaram para compreender de que forma e que políticas públicas são importantes para fazer da questão da preservação da memória coletiva uma questão de cidadania para a promoção do desenvolvimento social. No âmbito mais geral, interessou-se por conhecer tais dinâmicas e o modo como as populações tradicionais e não-tradicionais se relacionam com o ambiente humano em questão, quando o foco é manter tradições e ligar-se ao que é patrimônio como material e imaterial. Esta questão foi um dos elementos chaves para o empreendimento da aula de campo como ação de Extensão Universitária no prolixo diálogo com a sociedade pela implementação de políticas de afirmação social que passem pelo currículo escolar e atendam às outras demandas formativas, sendo possível confrontar teorias e hipóteses com dinâmicas que se materializam no espaço patrimonial nas áreas visitadas, favorecendo assim, a junção dos conhecimentos teóricos com o aprendizado empírico, sobre a Cachoeira, no Recôncavo Baiano, cidade heroica, palco de batalhas pela Independência, hoje  representada historicamente pela busca pelo tempo perdido, onde sua religiosidade e sua relação com a matriz africana, permeiam a elaboração e a consolidação de uma cultura relacionada a um território construído por essa gente, nascida nos eitos da escravidão que resistem preservando a memória de uma cultura de luta que esta para além da própria preservação arquitetônica do patrimônio edificado, pois resistem ao tempo dentro da própria busca pelo tempo perdido... Odoiá! Odoiá! Odoiá! 
 
Gênesis Naum de Farias
Sertão Profundo, Julho de 2014.
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quarta-feira, 22 de outubro de 2014