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A Casa do Patrimônio Serra da Capivara representa a incubadora de projetos interdisciplinares ligados a educação e preservação do patrimônio cultural, material e imaterial na Região Sudeste do Piauí, e esta ligada ao IPHAN em parceira com as universidades locais e as comunidades que vivem e produzem cultura no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Projeto de Extensão UNIVASF - São Raimundo Nonato/PI



A casa de farinha. Grupo de Estudos – Equipe 6. Quinta-Feira, 19 de Agosto de 2010. Disponível em http://7c6arteband2010.blogspot.com.br/2010/08/exemplos-de-xilogrura.html




 Projeto Casa de Farinha: Considerações Sobre a Convivência e Defesa do Patrimônio Rural do Sudeste do Piauí.



RESUMO


O Projeto de Extensão Universitária em estudo, tem por objetivo desenvolver uma análise na área de Preservação Patrimonial através das Práticas Sociais das Casas de Farinha da Região Sudeste do Piauí, buscando compreender os registros que identificam tais práticas socioeconômicas como Patrimônio Rural. Tem como objetivo promover o diálogo entre as instituições aqui envolvidas responsáveis e a população da zona rural da cidade de São Raimundo Nonato, com vistas ao fortalecimento da cultura material e da técnica tradicional construtiva. Estudaremos os registros das memórias e das identidades das áreas aqui contempladas sob o aspecto da relevância deste patrimônio no cotidiano tanto da zona rural como da zona urbana, assim como de suas práticas sociais. Os aspectos pedagógicos serão trabalhados entre as comunidades envolvidas, tendo em vista os discursos tramados pelos atores que atuam na defesa do Patrimônio Rural. Assim, ao compreender a cidade como fenômeno histórico ou objeto de conhecimento com suas dimensões de tradição e modernidade, a mesma pode ser estruturada no debate político destacando as configurações espaciais, históricas e a problemática da memória. Para tanto, pretende-se compreender as diferentes redes de saberes para interpretar as linhas de constituição dos sentidos empregados para fortalecer a defesa da Identidade pela Convivência com o Semiarido, como um elemento Cartográfico de ação e cidadania.


Palavras-Chave: Patrimônio;  Educação;  Arqueologia; Preservação; Memória.



Professores Orientadores:

Prof.ª Dr.ª Selma Passos Cardoso/ Coordenadora
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF;

Prof.º Esp.ª Gênesis Naum de Farias/ Vice-Coordenador 
(Membro da Comissão Organizadora -Tutor)
Núcleo de Estudos Foucaultiano/UESPI;

Prof. Dr.° José Jaime Freitas Macedo/ Membro da Comissão Organizadora (Tutor)
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. 



Pesquisadores Bolsistas:

LACERDA, Jussara Ribeiro; 
SANTOS, Raquel da Silva.


Pesquisador (as):

JESUS, Auritana Gomes de; SILVA, Carlos Roberto Rocha; OLIVEIRA, Cícero Ney Pereira de; FERNANDES, Fernanda de Sousa;  LACERDA, Jussara Ribeiro; COSTA, Marlene dos Santos; IGUATEMY, Mateus Maurício de Mello; SANTOS, Raquel da Silva; BARBOSA, Romulo Timóteo Macêdo; JESUS, Tamires Daniele de; IGUATEMY, Vanessa C. da Silva Mello; MENESES, Yugor Almeida.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Patrimônio da Cultura Sanraimundense

Edison Deusdará © Produção Uscaradegato®, 2009.


Edison Deusdará, Cidadão do Mundo.



Edison Deusdará, Cidadão do Mundo, pensador de acasos, senhor do seu tempo. Dono de um olhar poético que se afina aos dos grandes Mestres das artes plásticas desse país e se alinha ao traço Modernista que se produziu numa São Raimundo Nonato de outrora, projetada pela sensibilidade de uma modernidade tardia. Pintou sua cidade, reverenciou os Orixás, conviveu com a alta boêmia do Rio de Janeiro nos anos 50 e 60, desenhou para a alta costura carioca, tendo como clientes algumas Primeiras-Damas do Brsail. Esse artista foi amante singular de uma época recheada de encontros e desencontros. Foi do tempo uma personalidade viva, que amou, sonhou e foi atemporal.


Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Estadual do Piauí – UESPI.




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Fonte: http://diariobruxulesco.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Defesa de Mestrado sobre o Patrimônio da Serra Branca/Parque Nacional Serra da Capivara





Toca do João Sabino © Acervo Iphan, 2014.


Aconteceu no Rio de Janeiro no dia 11 de dezembro de 2014, a Defesa da Dissertação de Mestrado Profissional da Pesquisadora Joseane Pereira Paes Landim, que trata sobre um conjunto habitacional sob rocha na Serra Branca nos áureos tempos da cultura Maniçobeira. A Defesa aconteceu no Palácio Gustavo Capanema- Sede do Copedoc/Iphan, sob a Orientação dos Professores Luciano dos Santos Teixeira e Ana Stela de Negreiros Oliveira..


Serra Branca do Maniçobeiros: um conjunto habitacional sob rocha que (sobre) vive na memória.


RESUMO

Os  maniçobeiros  são  trabalhadores  que  extraiam  látex  da  maniçoba,  matéria  prima para fabricação da borracha. Esta fonte de economia foi utilizada pelo governo piauiense, e por outros governos  do  nordeste,  como  solução  para  crise  econômica  e  demográfica  do período  da  Primeira  República.  Um  dos  principais  núcleos  de  maniçobeiros  no  Sudeste  do Piauí  estava  na  região  da  Serra  Branca,  atualmente  localizada  dentro  da  área  do  Parque Nacional Serra da Capivara. O presente trabalho analisa o patrimônio cultural maniçobeiro a partir  de  duas  óticas:  a  primeira  é  a  visão  dos  próprios  maniçobeiros  sobre  sua  cultura  e  a segunda é a perspectiva das instituições gestoras do Parque. Pretendeu-se compreender como a  relação  dos  maniçobeiros  com  o  próprio  grupo  e  com  a  Serra  Branca    enquanto  lugar preenchido de simbolismo    influenciou na formação de sua identidade. E, a partir do exame dos  processos  de  criação  e  tombamento  do  Parque  e  de  projetos  institucionais,  verificou-se como  os  órgãos  gestores  do  Parque  enxergaram  o  patrimônio  cultural  maniçobeiro  e  quais valores foram atribuídos a sua história ao longo do tempo.

Palavras-Chave: Maniçobeiros; Patrimônio Cultural; Serra Branca; Memória.
 



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Patrimônio Cultural do Município Petrolina/PE


Mercado Livre – Petrolina/ PE, 1980 − © Celestino Gomes.
− Óleo sobre Estopa (0.80 x 1.25 cm).


O Corvo das Ideias Primordiais


Morreu há alguns anos atrás, mas precisamente no dia 21 de Abril, o mais notável Petrolinense que tive a honra de conhecer e ouvi-lo falar na sua mansidão, na sua atormentada placidez, nos seus retoques de homem simples e dotado da sabedoria celeste dos astros iluminados que brilham nas províncias como lírios de fogo, pois sua alma encantadora já era maior do que os causos de sua notável rebeldia, contados as várias bocas pelos que o julgavam como um louco ou um simples personagem folclórico. Por causa dele perdi um grande amigo, certo dia ao me referir a Celestino Gomes com a alcunha de ser ele o nosso Hemingwey do Sertão.
Há dias, via-me triste e perturbado com o curso de sua enfermidade. Sua dor silenciosa e de ressonância íntima me incomodava profundamente, pois na sua presença se podia ver que era um homem forte e valente, que se resguardava e se fortalecia dia-a-dia com o brilho do sol de sua terra e a presença do rio em sua vida, frente aos vários desassossegos da existência. Hoje entendo que o excêntrico e amável Celestino se eternizou ao dar vida a alma sertaneja na genialidade do seu traço, que se alinhava à inquietação latente de sua triste existência de homem peregrino e solitário.
No dia de sua partida, percebi o quanto a cidade ficou mais feia, pobre e esquecida. E só uma cidade sabe o que é perder a força de um grande olhar, na figura do seu maior artista. Petrolina perdeu não só o olhar de um grande artista, que não se cansou de retratá-la, mas a doçura de um ser que transcendeu as suas esquinas, as suas praças, as suas ruas, o seu encanto. Seu desaparecimento nos deixou também muito pobres. Era a enigmática figura de um homem que transparecia sua tristeza nas suas ações e, nos deixava partindo para outra jornada de espiritualidade.
Hoje sei que a literatura Petrolinense perdeu uma de suas vozes mais libertárias. Sua independência diante das convenções sociais incomodava e causava calafrio em muitos figurões desta provinciana cidade de tropeiros, beradeiros e aventureiros, porque era capaz de alçar vôos muito rápidos e altos, diante de uma simples tomada de decisão em favor das causas dos mais desfavorecidos. Mas Celestino Gomes partiu para o desconhecido com o reconhecimento público de uma produção artística que só a posteridade saberá coroar com a grandeza plástica das imagens do sertão que ele deixou, já que com indiferença foi tantas vezes julgado e impiedosamente atacado.
Ao refletir sobre a morte do poeta dos pincéis celestiais, me veio a pergunta que tangencia a arte como espelho social de uma época, e fui calado com a sublime reflexão de que a maior arma de um coração bélico como o dele é possuir o sonho de grandeza de um sonhador que sonha com o enriquecimento humano dos homens que o circundam. Agora posso chamá-lo como dizia Miguel de Cervantes do seu cavaleiro da triste figura – Dom Quixote. E foi esta figura universal que recobrou da minha ingênua pena a candura de uma reflexão que fervilhava a minha alma naquela manhã do dia 22 de Abril ao ver seu corpo sendo levado ao cemitério, diante de uma cidade pálida, perdidamente triste e pobre.
Presumo ser apropriado falar do velho Celestino, quando ele se predispôs a se identificar retratando o sertão como sua pátria maior. Era o sertanejo que falava nele, que se retratava diante do esquecimento de sua gente, que a ninguém deixaria indiferente. Celestino não estava de forma alguma alheio à importância daqueles com os quais se defrontava. No entanto, julgou-os a todos sem que jamais alguém pudesse perceber qual seria a sua real intenção. Mesmo assim, sua obra falará por si, ao deixar registrado como mapeamento de um tempo, o gratuito desfilar de seus personagens nas imagens de sua querida cidade. Não se tratava propriamente de caricaturas, mas de um gênero genial e peculiar que a poucos é dado em doses de sabedoria.
Sua rebelde figura, mais tarde, serviria como reminiscências de um caráter pessoal, independente e maduro. Porém o que conta, o que pesa mesmo é o fabuloso registro de sua época, de sua história e de sua aldeia, que o mesmo parece ter arquivado e que agora voltará a público com a redobrada força de seus mistérios.
Ao se deixar retratar em dois livros, sua imponente literatura cresce e se enaltece com o tempo na memória histórica do seu povo, pois passados alguns anos da publicação dos mesmos e diante do seu imaginário pictórico, podemos imaginar o quanto – o velho pintor do rio – já se conhecia e se auto-retratava com perfeição. Da mesma forma, e com o seu característico vigor, Celestino perambulava pelas ruas e se defrontava com a hostilidade dos olhares para com ele, mas conservava sempre aquele mesmo ar entre espantado e severo, de quem adivinhava o que iriam fazer com sua memória.
Seu sentido de expressividade obrigava os altíssimos, orgulhosos e provincianos a se curvarem diante dele, não por reverência, mas apenas para ouvi-lo melhor, em respeito a sua sublime compreensão de vida e abandono, o que dava afinal o mesmo resultado, devido à sabedoria que brotava dos seus vivos olhos azuis.
Neste pequeno memorial de recordação, Celestino Gomes estará sempre revestido de luz e simplicidade. Suas lembranças, mesmo que diminuída com o tempo, sempre me resguardará a sua atenção quase sardônica. Mas estou falando apenas dessa estranha personagem, que apresento como o homem histórico na sua última investigação histórica, no empenho de atingir o senso obsesencial da sua substância, na matéria palpável de sua arte como um misto lamentável de não ter tido a honra de conhecê-lo a fundo, na passível Petrolinidade desse nosso herói, que sempre merecerá ser lembrado como o maior e o mais notável cidadão Petrolinense.
Sua espécie é rara, pois sem escrever um verso se tornou realmente um grande poeta, pois retinha “uma candura que insiste em dizer-nos que és feito do fogo, do rio e de sol”. Seus tons de cinza, vermelho china, verde desbotado e azul cerúleo, nos lembram o extraordinário pintor holandês em seu inquieto canibalismo, empunhando sua expressão ameaçadora. E repito: sempre Celeste, quando ignorava o sentido simbólico de suas ações e principalmente diante de sua expressiva nostalgia de menino afoito e matreiro. Nisto sua figura se espelha a de um pequeno e sábio Corvo – sabendo que essa ave é o símbolo das idéias primordiais – na sua proposital genialidade diante da solidão que o revestia de celestes “arco-íris tingidos de tonalidades que nos acalentam e libertam”, mas já vivendo num plano superior, como todas as aves solitárias.
Na noite do falecimento total de sua existência, o céu se umedeceu e transbordou em lágrimas. Há muito ninguém o via passeando no passadiço citadino; a beira do velho rio – sua morada jeitosa, para onde queria ser levado para um último adeus. Era um pedido longínquo. A sua sina de marinheiro, boêmio e poeta, havia deixado-o numa ressaca interminável com os fatos do cotidiano, preferindo o isolamento sucinto nas plagas da ilha do silêncio; na torre do seu castelo de sonhos, ilusões, devaneios e lutas infindáveis para escapar da solidão.
O continente só ficou sabendo de sua triste partida porque os ventos do norte trouxeram mensagens da ilha, onde não mais os corcéis poderiam habitar por falta de proteção. Era a partida de um mito, que por toda a vida logrou pelas águas da existência na labuta contra o isolamento, chegando mesmo a ver caravelas onde só havia o desolado vai e vem das ondas que o abrigavam na sua lida de almirante. Seu último pedido foi que o enterrassem com sua magnífica espada numa encosta da ilha; perto do rio – longe de todos – Era um grande poeta!
O próprio dizia que no continente só possuía dois amigos: um Deputado da República para as suas confissões infernais ao relembrarem a infância de outras épocas, e um excêntrico poeta, para os bordejos matinais na boêmia gostosa do cais, na companhia solitária dos seus silenciosos encontros com o fim da tarde. Na verdade, nunca houve silêncio nestes encontros, pois ambos pensavam a vida e, entre becos e esquinas, seus pensamentos acabavam estacionados na Rua Boa Esperança num velho cabaré conhecido como Porto Bello. Era assim a sua vida no continente.
Sua existência fora uma grande e tumultuosa lenda, gerada a partir de aflições monumentais e inquietações latentes. Enterrou vidas e viveu o tempo suficiente para sofrer sete solidões e se maldizer do que viu e viveu nestes longos anos de silêncio. Era como se uma ordem secular partisse e deixasse o sentimento de ameaça tomar conta da vida dos seus contemporâneos. Muitos diziam que o mesmo não fazia parte deste universo, sendo uma transição que muitos queriam que partisse logo, para fazer-se esquecer do que um dia fora dito de sua boca – profecias malditas que afetaram os brios católicos da província mestiça com ares de nobreza, mas com traquejos de uma sociedade sem tradição nas ideias.
Poucos foram os que puderam contemplá-lo nestes últimos anos em que sua intransigente irreverência celebrava conflitos e aparições ilusórias, mas que alimentavam sua efêmera imaginação para o devaneio sombrio das enchentes do rio. Como se costumava dizer - Era um mito. O lema de sua existência sempre fora a totalidade da vida em sua total parcialidade; era um rebelde inquieto que sonhava com um mundo liberto de tiranias. Neste instante se saúda sua memória, arrastando pesares cerimoniosos sob o olhar crítico de uma espécie de pensador anarquista que olhava a todos como se tivesse pagado para ver um espetáculo.
Ao morrer deixou um inventário em dois livros, que desejava um dia ser lido como o breviário de sua lucidez para afirmar sua condição de filósofo de um caos íntimo numa Era Planetária, onde o ser não tem espaço diante do nada niilista da especulação digital e da imensurável frieza nas relações humanas. Falarão no futuro que as almas dos homens perdidos sobre um abismo e em contato com a imensidade, ficam abandonadas a todos os excessos do heroísmo, da loucura ou do horror. Evidentemente, que sua conduta jamais será submetida à prova de uma horrenda força diabólica, visto que a realeza dos seus ideais será nitidamente vista como algo que transcendeu o isolamento mais absoluto e fora capaz de esperançar, viver e lutar pelas causas mais nobres que padecia a humanidade.
Sua elegância tornava o funeral um tanto quanto sinistro; sua companheira de sempre – a solidão – estava lá, ao lado de um cão em silêncio, contemplando uma nova perspectiva sobre a alma do féretro – montavam guarda como negros corvos. Havia uma confissão latente de que não gostaria de morrer com terrores suplementares, mas tranquilamente, numa espécie de sonho sereno.
Parafraseando o escritor inglês Josaph Conrad, certa aptidão para a morte não é coisa tão rara, mas o que é raro é encontrar homens cujo coração, revestido de uma impenetrável armadura, esteja pronto para conduzir até o fim uma batalha perdida. Só os que lutam contra forças brutais conhecem bem esse desejo; homens que entram na História pela porta da frente, enfrentando as cegas potências da natureza ou a brutalidade estúpida das multidões... 




Gênesis Naum de Farias
Sertão Profundo, Novembro de 2014.

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